Muito se tem falado sobre as alterações climatéricas do planeta e, se muito se tem falado mais se tem sentido essas alterações, pelo menos por aqui.
Depois de um curto verão excessivamente quente, um inverno que teima em não chegar ou melhor dizendo, em chegar dentro dos padrões normais para um inverno da europa central/norte.
A neve ainda não caiu este ano, as temperaturas tem sido sempre positivas e altas (entre os 7ºC e os 16ºC) e ontem foi um dia quase “catastrófico” para os alemães. Para quem vem do Minho, como eu, não foi nada do outro mundo, até porque este tipo de tempestades não são assim tão invulgares quanto isso.
Os alemães são pessoas muito organizadas por norma e que gostam de estar preparados para tudo, há já alguns dias que os media vinham avisando a população para uma eventual tempestade de chuva e ventos muito fortes.
Ontem, quinta-feira foi declarado estado de alerta máximo para alguns estados alemães, entre os quais o norte da Westfalia onde me encontro, prevendo ventos na ordem dos 170kms/h.
A meio da manhã telefonaram-me da escola para que fosse buscar a minha filha, tinham dado ordem de encerramento a todas as escolas da Westfalia a partir das 11.30h e eles não deixavam as crianças esperar na rua.
Depois comecei a ouvir na rádio para fechar bem portas e janelas, não deixar nada solto nas varandas, não estacionar perto de árvores....bem, com notícias destas quem não começa a ficar preocupado?? quase pensei que devia ser por aí um “primo do Katrina” ou coisa que o valha!!!
Certo é que, o "Kyrill" chegou mesmo, e a partir do meio-dia o vento começou realmente a aumentar de intensidade e quem teve hipótese deixou os empregos para ir para casa, já que pediam para diminuir ao máximo a circulação nas estradas ainda que os transportes públicos estivessem a funcionar normalmente.
Ao fim do dia eu já só estava à espera de ver uma destas árvores seculares da minha rua a cair em cima da casa ou então ver o telhado levantar vôo, mesmo assim nada a que eu não tivesse assistido já em Portugal...
Hoje (ontem), o dia acordou sereno e o sol até deu o ar da sua graça, na rua alguns galhos partidos, coisa pouca, no meu jardim só o caramanchão tinha tombado e as árvores tinham ficado um bocado maltratadas.
Pensei com os meus botões e com um sorriso de gozo que realmente estes alemães são mesmo exagerados, mas...era só o meu cérebro a pensar em português, habituado a um país que só depois da desgraça acontecer é que se lembra de precaver, esquecendo-me que aqui previnem antes em vez de remediar depois...
Conforme ia conduzindo ao longo da estrada os estragos começaram a ser visiveis, alguns telhados levantados, imensas árvores tombadas, embora a maior parte, mesmo sendo ainda muito cedo, estivesse já devidamente cortada e nalguns casos principalmente as mais finas, desfeita em serrim pelos trabalhadores da Câmara.
Tudo sob controle.
As surpresas foram mais para quem teve que utilizar os comboios, havia muitas obstruções em várias linhas ferroviárias, o que nem por isso foi sinónimo de atrasos, já que a quem ficou sem ligação foi pedido que utilizassem os taxis e, posteriormente se dirigissem à Câmara Municipal com a factura e um comprovativo do emprego, para receber o valor da despesa...
A Protecção Civil a funcionar sem falhas a apontar.
É nestas alturas que eu faço comparações com o meu país. E quando este tipo de coisas acontece por lá??
Os impostos aqui, também são altos, sem qualquer dúvida, mas a população recebe em troca. Hoje, sexta-feira ao final do dia, quase não se viam vestígios da tempestade, tudo estava limpo, não havia uma única árvore no chão, os comboios já circulavam e a vida corria no seu ritmo normal, à espera da tão ansiada neve que dizem, chegará finalmente num par de dias...
Fotografias: Micas 19-01-07