Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em Terras da Germânia

Sonntag, April 27, 2008

Saudade

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Foto: Micas - 07/06




A viagem tinha corrido bem chegando agora ao fim da linha.
Subí aquele último degrau e bati à porta nervosamente, de coração apertado, ainda com a ténue esperança de te ver aparecer...
Desta vez não foste tu quem me deu licença para entrar, nem foste tu quem me veio abraçar na alegria do reencontro, nem eu estava tão preparada para essa realidade que me esperava
Desta vez, nem o mar, nem o sol nem os velhos amigos conseguiram arrancar a tristeza que foi crescendo dentro do peito.
O velho cadeirão onde te sentavas a ler, a esplanada da praça onde todos os dias paravas para um café entre amigos, a caixa do teu chocolate predilecto, as flores que gostavas de tratar, a mesa de pedra do jardim onde nós e tantos dos nossos antepassados se foram sentando ao longo de gerações em tardes cálidas e envolventes de verão... tudo estava lá e, tudo me falava de ti...
A velha mesa continua sólidamente implantada sob as ramagens frondosas dos carvalhos seculares naquele recanto do jardim, contudo já não se ouviram histórias nem risos, apenas a sombra e o silêncio deixado por ti.
O não querer aceitar o facto de teres partido, ainda que inconsciente, o querer acreditar que tudo não passou de um pesadelo, foi duro, e doeu como o "caraças", sabias? Claro que sabes.
Mesmo sabendo-te sempre a meu lado, não é fácil evitar este vazio que sinto dentro da alma.
Esta dor de saudade que o tempo teima em não ajudar a esmorecer.
Mas a vida continua, eu sei que nos vamos encontrar um dia, lembro-me até de me teres dito que todos seguimos no mesmo comboio e que todos temos o mesmo destino, com a única diferença que uns ocupam as carruagens dianteiras e outros seguem mais atrás, eu sei, não me esqueci, mas tenho... tenho tantas saudades tuas pai...





Adenda: Embora o texto tivesse sido escrito há quase 2 anos, decidi participar com o mesmo no 2º Jogo das 12 Palavras ainda que com algumas alterações para o efeito, porque tudo ainda me é muito presente...


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Sonntag, April 13, 2008

Partir de um Sonho

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Fotografia: Micas 08/06


A noite foi escura e fria. Lá fora a chuva caiu intensamente, batendo com força nas vidraças provocando um concerto de sons ensurdecedores, que convidavam a paixões e loucuras inconfessáveis.
Tudo parou de repente. A tempestade passou.
E como num passe de mágica, entrava agora pela janela uma brisa matinal, fresca, normal para uma manhã de Primavera.
Uns poucos e ténues raios de sol teimam em romper nuvens, mostrando pequenos retalhos de um céu azul. O aroma que paira no ar é uma fusão de cheiros inebriantes a esta hora do dia, num misto a terra molhada e [a]mar que despertam sentidos. O oceano transformou-se num imenso lago que vai lambendo o penedo erodido pela força de outras tempestades, onde descansa o velho farol.
Na cama, palco de um avassalador bailado, onde os nossos corpos se fundiram em entregas sem reservas nem condições, dormes ainda.
Olho-te com carinho. É belo o teu semblante adormecido, alheio à dor que me trespassa o coração e me deixa amortecida.
Em breve terei de partir. É inevitável este distanciamento que adivinho.

Porque a vida corre para lá deste quarto onde as cortinas esvoaçam numa dança sensual. Onde o sonho se fez real por momentos feitos de silêncios e sentires.
Vou partir, vou deixar crescer asas, e um dia... Um dia volto. Inteira.
Voltarei a este quarto, onde agora te deixo adormecido, para contigo comungar o momento, tornando real o sonho que ambos partilhamos.



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