Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em Terras da Germânia

Montag, März 27, 2006

Saudade

Fotografia: Micas - Março/06



Quando todos os sentidos se perdem nos sentires
Quando o negro da noite teima em apagar os olhos de uma estrela
Quando tudo parece vazio
Recolhimento...
Momento interno da alma
Acreditar...
Que as chuvas da Primavera limpam a tristeza do coração
Tal como o sol faz brotar a semente que à terra caíu
E de novo a luz voltará a brilhar
Um sorriso...
Porque te sinto vivo em mim.

Um abraço sentido a todos quantos por aqui passaram e deixaram palavras de carinho e conforto. Bem Hajam.
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Dienstag, März 14, 2006

Uma estrela nasceu no céu

Pai, partiste há poucas horas atrás.
O meu coração chora, e o meu corpo está como que anestesiado.
Logo quando chegar ao pé de ti, os teus olhos verdes e vivos já não se vão rir para mim, nem vou sentir o teu abraço apertado.
Sinto que estás em paz e sei que sempre, sempre caminharás ao meu lado, mas as saudades já são muitas.
Estejas onde estiveres, viverás sempre dentro deste peito que hoje te chora. Amo-te muito Pai.
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Sonntag, März 12, 2006

Um Branco Que Queima...


"Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de água disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido:


Tu, que em um peito abrasas escondido;
Tu, que em um rosto corres desatado;
Quando fogo, em cristais aprisionado;
Quando cristal, em chamas derretido.


Se és fogo, como passas brandamente?
Se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!


Pois para temperar a tirania,
Como quis que aqui fosse a neve ardente,
Permitiu parecesse a chama fria."


"Soneto de Gregório de Matos Guerra"
Fotografias: Micas (Münster 11/03/2006)
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Mittwoch, März 08, 2006

Mulheres

Fotografia: Micas - Dez./05

"Mulheres são palavras
Soltas e espaçadas
Loucas e alucinadas...
Mulheres e seus cabelos
Soltos e perfeitos
Despertam medo e receio
Mulheres de maternidade
Com a visão da eternidade
Perpetuam a humanidade...
E o que sabem as mulheres
Quando estimulam os sentidos
E se transformam, indefiníveis...
Mulheres notívagas,
Movidas à luz da lua,
Estão no céu e flutuam...
Mulheres de liberdade,
Em espaços apertados,
Com os olhos no horizonte
Mulheres aladas,
A beleza ilustrada,
No céu são encontradas...
E
Para acompanha-las
É melhor soltar...
As armas
As asas"

"Adriana Zapparoli"

A todas as Mulheres, principalmente a todas que sofrem na pele a violência dos dias, porque o Dia da Mulher não é apenas um dia no ano. A todas as Mulheres, uma rosa e um abraço.
A ti Mãe, duplamente de Parabéns, um beijo especial.
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Mittwoch, März 01, 2006

Somos Portugal



Há dias recebi por mail um texto que fala do „Norte“. Foi-me enviado por uma amiga, nortenha e minhota, como eu.
Não resisti à tentação de o colocar aqui, não por desconsideração, muito pelo contrário.
Sou do norte sim, Limiana de coração. Admito o meu orgulho em ser nortenha, o Porto que me viu nascer, Ponte de Lima onde cresci e Viana do Castelo onde por último vivi, habitam no meu peito, da mesma maneira, que gosto de tantos outros locais espalhados ao longo deste pequeno rectângulo à beira mar plantado. Todas as regiões, tem a sua graça e os seus encantos próprios e, acima de tudo, únicos.
Por isso acredito que, cada "não-nortenho" traga o sul dentro do peito, o centro, ou as ilhas, o que de todo, não elimina os outros pontos cardeais, eles não existem sózinhos, complementam-se.
Sempre achei ridículo aquele „bairrismo fanático e patético“, que apenas espelha a alma de quem verdadeiramente pouco ou nada sabe sobre as suas origens. Somos tão pequeninos, não tem que haver fronteiras nem muros, essas são inventadas por nós, porque a grande verdade é só uma; somos todos irmãos e, a bússola não sei se existe, todos, temos o mesmo nome;
PORTUGAL.


Texto de Miguel Esteves Cardoso:

"Primeiro, as verdades.
O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País (a beleza está no interior de cada um[a] e no olhar de quem vê).
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram. Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca.
Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor (diria que a cozinha portuguesa é a melhor da europa, cada região tem as suas especialidades). O vinho é melhor (o branco sim). O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
Estas são as verdades do Norte de Portugal. Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, etc, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina.
No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte.
Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa.
Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo.
As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.
O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso. As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança.
Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer.
Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte.
Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar. O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?"
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