Stokenchurch
“A man cannot but become pleased to find an account of persons that have long since possessed the places where he now resideth” - Thomas Delafield (1690-1750)
Desta vez passei ao lado sem parar, o destino era outro e a ansiedade em rapidamente lá chegar era muita. Embora estivesse nos planos dar um salto à capital, já que do sitio onde me encontrava seriam apenas uns 30mn de carro, acabei por não encontrar vontade de ir.
Queria mesmo uns dias de paz, fugir do bulício e da opressão da cidade, do barulho e de tudo o que fizesse lembrar a vida apressada que levamos.
Stokenchurch, sim, até à data e de todos os sitios que já visitei, continua a ser um dos únicos locais onde parece que o tempo enganou os ponteiros do relógio, o lugar ideal para purificar o corpo e a alma.
Por muito se que esteja sem lá ir a sensação da chegada é sempre a mesma...um aconchego que nos abraça e nos lambe as feridas, um retorno à casa primeva, porque “casa” será sempre aquela que nos ajuda a (re)nascer e nos faz sentir vivos...
Stokenchurch é uma aldeia muito pequena que pertence a High Wycombe, localizada no condado de Buckinghamshire.
Os primeiros documentos que se conhecem datam de 1007 embora tenham sido encontrados vestígios na zona que confirmam a existência do povoado muito antes dessa data.
A sua história deve muito em parte à sua localização. No passado, começou por ser um local de paragem para a mudança de cavalos uma vez que se situa a meio caminho entre Londres e Oxford.
A sua economia está fortemente ligada à agricultura, embora nos anos 30 tivessem existido sete ou oito firmas familiares fabricantes de cadeiras que depois eram entregues à maioria dos fornecedores de mobiliário inglês. Hoje em dia essas pequenas firmas já não existem, resta apenas a comunidade agrícola.
Stokenchurch é uma típica aldeia inglesa onde toda a gente se conhece pelo nome.
Lá, a palavra "stress" não entra no vocabulário, não há “night life” apenas os velhinhos e característicos pubs, datando o mais antido de 1550.
Não há fabricas nem fumos, não se ouvem sirenes nem carros de policia, não se vêem neons nem holofotes.
Local de residência escolhido por alguns excêntricos e figuras públicas como o conhecido Jay Kay vocalista dos Jamiroquay ou Mr. Bean que costumava passar temporadas por lá.
De poetas e pintores que encontraram nas suas paisagens bucólicas e românticas uma fonte de inspiração.
Paisagens onde o verde impera, salpicado de quando em quando pelo branco e negro dos rebanhos que pastam pelas colinas.
O Tamisa que se vai espreguiçando pelo vale, insinuando-se sedutoramente aos gansos e cisnes de porte altivo e real.
Também de paisagens escolhidas por realizadores de cinema pelo seu misticismo, como por exemplo algumas das filmagens do 007 - “Live another day” ou “Harry Potter”.
Um local onde a traça medieval ainda é visível em vários pontos, de pedras e musgos que nos murmuram ao ouvido uma linguagem de encantamento e de impressões intemporais.
Uma aldeia mística onde toda a gente tem histórias e lendas fantásticas para contar, mas isso ficará para outra postagem...