Mais um fim de semana a caminho e já só pensava na viagem que faria na manhã seguinte. Desde que tinha comprado aquela casinha no Norte de Africa sentia a vida ganhar um novo sentido. Agradava-lhe a ideia de ter casa noutro continente e agradava-lhe ainda mais, o ser possivel sair daquele cantinho lusitano sentindo a frescura do orvalho matinal e chegar a tempo de ver o astro rei descer sobre as areias escaldantes do deserto.
Tinham sido tempos turbulentos aqueles últimos. A morte da criança que tanto amava, tinha exposto toda a sua vulnerabilidade. O sofrimento tornara-a numa silhueta de si mesma.
Um dia, acordou com uma sensação estranha dentro do peito, era como se um sol radioso e quente a impelisse para fora daquela inércia. Não, basta, de uma vez por todas queria afastar de si o sentimento de pena que via no olhar das pessoas à sua volta. Foi como se a força interior que inexplicavelmente sentia, atingisse o seu exponente estilhaçando aquela obstrução na sua vida.
Agora era a hora de recuperar o tempo perdido. Amanhã quando chegar, terá a certeza de encontrar, por entre tapeçarias coloridas e aromas a chá de menta, o anjo que perdeu.
Ele estará lá. No sorriso daquelas crianças que a esperam a quem decidiu dar uma oportunidade de vida.
Afinal, o recolhimento por que passara tinha sido um bom conselheiro...
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