Para terminar esta pequena visita pela verde Eirinn, proponho um passeio a partir de Dublin rumo a sul, até ao condado de Wicklow pelo litoral.
Durante o percurso de mais ou menos 50kms, encontramos várias vilas costeiras, típicamente irlandesas, que nos fazem sonhar e querer ficar ali, olhando as gaivotas que gritam e dançam sobre os barcos dos pescadores que vão chegando ao cais.
Entre essas pequenas vilas destaco Shankill, a última do condado de Dublin, terra dos amigos celtas e onde fico sempre que vou à Irlanda, Avoca e Enniskerry, a primeira do condado de Wicklow, qualquer uma delas conhecida pela poesia e música que lá se faz.
Entre uma e outra passamos por uma aldeia, Killiney, (e agora uma pista para os fans dos U2, basta que sigam através de Vico Road e passam mesmo à porta da casa do Bono, digam lá que não sou amiga ;)))
Uma das entradas da casa de Bono
Wicklow faz parte do conjunto de condados onde se encontram os lugares mais místicos da Irlanda.
Para quem procura uma experiência mística será por certo nesta zona entre as praias douradas da costa Este e o majestoso Shannon das Midlands. A lendária colina de Tara ou o velho Trono dos Grandes Reis Pagãos remetem-nos a locais de culto, étereos onde se medita sobre a vida. Talvez sejam estes os sitios mais remotos que ainda se possam contemplar no país.
Wicklow é famoso pelos seus jardins, são bonitos sem qualquer dúvida, artisticamente trabalhados, pessoalmente não me dizem muito, prefiro a beleza natural e selvagem.
Wicklow também é selvagem e místico, Glendalough prova isso mesmo.
Glendalough ou o Vale dos Dois Lagos, como é conhecido, é um vale de grande profundidade entalado entre duas colinas, e que foi esculpido pela força de glaciares durante a Idade do Gelo. Natureza pura e selvagem.
Foi exactamente neste vale onde a maior parte das cenas do filme Braveheart, Excalibur e King Arthur foram gravadas.
Este local foi também o escolhido por S. Kevin que fugindo a um coração por si destroçado, a um desgosto de amor por si provocado, aí se recolheu em meditação, dizem por isso que os pássaros desde então, deixaram de cantar em Glendalough (certo é que nunca ouvi um único pássaro por lá!!).
Aí fundou um mosteiro no ano de 498.
Embora quase todos os edifícios estejam em ruínas devido às invasões Vickings, ainda há muito para ver, as Torres cónicas talvez das poucas ainda existentes na Irlanda, a pedra da fundação que fazia parte do edifício principal e a Fonte Sagrada, um pequeno buraco numa das paredes onde a água brota directamente de uma qualquer nascente e que até hoje nunca secou.
Não há muito mais para escrever sobre este local de encantamento e misticismo, porque Glendalough é todo um conjunto de sentires que saiem de fora para dentro, sim, de fora para dentro, e que depois nos navegam alma, corpo, pele.
Glendalough são lagos de águas cristalinas que purificam corpo e alma, e são pedras... pedras que nos murmuram segredos ao ouvido...
Fotografias - Micas, Eirinn/Out.