Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em Terras da Germânia

Freitag, November 07, 2008

So long

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Houve um tempo em que ambos fizemos parte da mesma familia, ainda que indirectamente, mas a vida é feita de encontros e desencontros e, a dada altura, esses laços sofreram uma ruptura. Salvou-se a amizade, essa ficou intocável. É bonito saber, sentir que a relação que existia com todos os membros daquela familia continuou e continua sem sofrer danos.
Hoje, e ao fim de uma semana continuo chocada com a noticia da tua partida inesperada. Gostava de estar perto da N., do teu filho, de lhes dar o meu abraço e apoio quando daqui a uns dias te forem acompanhar à tua última morada, vai ser duro para eles, está a ser muito duro para eles.
Vê só a ironia do destino, andaste vezes sem conta no fogo cruzado de tantas guerras, guerrilhas, do Ruanda à Birmãnia, Libéria, Sri Lanka, El salvador, Sudão, Uganda, Nagorno Karabach, Georgia, Abkazia, Angola, Bosnia... sempre chegaste são e salvo a casa para agora teres sido traído pelo próprio coração quando ainda tinhas tanto para dar... não é justo.
Hoje estive a ver fotografias tuas, não as que tiravas nos campos de batalha, antes aquelas dos bons momentos em familia. Lembro-me que trazias sempre para o teu filho uma máscara do local onde tinhas estado, postais (quando os havia) para mim, as peças raras da minha colecção.
Lembro-me que tinha o previlégio de ser uma das primeiras pessoas a ler as tuas reportagens antes de serem publicadas. Lembro-me de coisas como tabaco "Prince" ou whiskey Jameson, pequenos prazeres que tinhas, "Mambo dos Little Feat" ou "Born in USA do Bruce", músicas que ficarão para sempre ligadas a ti. Lembro-me das nossas saídas a 4 e de tantas coisas boas que todos juntos partilhamos. Lembro-me ainda de uma exposição de fotografia que fizeste, fui eu quem traduziu as legendas e, antes da exposição abrir disseste-me para escolher uma das fotografias para mim. Essa mesma imagem está até hoje na parede da sala em lugar de destaque, é a minha terapia quando acho que estou cheia de problemas, basta-me olhar a fotografia para perceber que os meus problemas não são nada comparados com os de muita gente...
Hoje, apenas o choque e a má digestão da tua partida prematura que teimo em não querer engolir.
O mundo perdeu um jornalista na verdadeira acessão da palavra, contudo estarás mais vivo que nunca nos corações daqueles que contigo privaram de perto e na obra que deixaste.
Não sei mais o que te dizer, talvez um obrigada por teres cruzado o meu caminho, e por te ter conhecido suficientemente bem, sei que neste momento posso fazer um brinde e dizer;

A ti Peter, até um dia!


Fotografia: Nania Strandberg 07/90
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