(I) matéria
"O percorrer as sombras vislumbrando meios rostos difusos entre sons magníficos na esperança gorada de uma visão plena de [ti] não passou de sonho entre jograis, tendas com sabores a a (n) da (n) ças e impossibilidade de comunicação. No apelo à Paz feito pelo músico ainda existiu a ténue esperança da corporização defraudada pelo erguer de braços, pela aclamação concordatária e o vozear explícito da magnitude de um não ao absurdo da guerra.
Porém adivinhei [te] entre essa turba indistinta de cabelos negros tranquilamente acomodados sobre ombros, o olhar sonhador – perscrutando? – brilhando na penumbra de uma noite quente de Verão buscando imagem ou ténue sinal da presença crepuscular de [mim].
[Seria noite encantada] não fora a ausência presente e a indissolução da não-matéria em corpo físico, absinto, abstracto, absoluto tudo reunido na incongruência do desencontro inexplicável.
Sentir que algo se liberta de dentro vagueando no nenhures infinito e no eterno retorno à concha, obtendo a resultante de um ser mais rico pela viagem ao seu interior de como se essa virtualidade acentuasse a necessidade da fuga para que o conhecimento aconteça. Na mais que estranha dualidade - quase paradoxo - da fuga e retorno estará o fiel da balança invisível onde se entrecruzam as múltiplas facetas do Ser e a consciência explode no deslumbre de uma Luz intensa e o homem se realiza.
[O que estará por detrás do espelho se conseguirmos ignorar a devolução da imagem em jeito de gesto reflexo, ele também reflexo de outro reflexo que se prolonga na imensidão de todas as devoluções de imagens de vidros planos numa espécie de catarse convergente?]
Quase se sente o silêncio da água límpida e azul que encobre seios e cabelos que flutuam, imagem capturada na quietude da mansidão ilíquida e transparente onde a nudez se adivinha, ou aquel´outra de perfil onde sobressai o talho perfeito do rosto e o contorno labiar distendendo-se num pescoço alvo e perfeito culminando nos pequenos pés cobertos com ténis num corpo em posição quase fetal de encontro a um velho muro secular recortado na paisagem agreste de um qualquer recanto minhoto.
Um dia promet [i] levar [te] azul e aromas de maresia. Tarefa cumprida mesmo quando as letras se cobrem de negro e de cinza anunciando borrascas internas, sobrando todavia sempre espaço para os azuis multitons. Talvez esperasse apenas levar [te] sons, aromas e sabores da pátria longínqua feitos de espumas de águas oceânicas que se desfazem de encontro às praias e rios de águas revoltas correndo sem rumo entre-margens de encontro à morte numa qualquer Foz, engolidas pela voragem desse mar-surpresa, laboriosamente pintado letra a letra em tonalidades azuis e delas discorre [sses] sentires. Ou talvez esperasse olhar [te] nos olhos e em silêncio a contemplação se transformasse em tudo, mesmo na felicidade antevista nos delírios das [minhas] insónias. Ou talvez ainda esperasse a magia incontornável do mergulho no abismo ocular que um olhar provoca, acentuando a inevitabilidade do beijo. Casto e impúdico a um tempo.
Porém, as sombras da noite engoliram [te] entre a multidão ávida de sons. Apenas contornos indistintos de rostos e olhares concentrados num ponto comum se vislumbravam regurgitando em amálgamas respiratórios, tons de festa e andanças.
Qual areia de ampulheta que lenta mas inexoravelmente percorre o estreito canal marcando o Tempo em sucessivos ciclos completados, também o sentimento de felicidade se escapa qual areia fina por esse estreito canal sublinhando solidões e enterrando esperanças. Tudo mergulha nessa noite eterna de sorriso escarninho e voraz povoada de andanças e tons de festa.
[A vida a sorrir da pequenez incontornável do Ser.]
O regresso:
Triste, serpenteando entre fantasmas, devorando a distância assinalada pelo tapete negro e uma ou outra luz que em jeito de contra ciclo se cruza na estrada estranha da vida, marcando com traço invisível o percurso que conduz ao efémero dos dias que se sucedem e ao regresso às paredes vazias que se estreitam cada vez mais, sufocando respirações e anulando vontades.
O silêncio:
Que não se entende.
A esperança:
Desaparecida.
O momento:
Inexistente.
A noite:
Negra.
O pensamento:
Engolido no abismo estriado de pedras angulares e mortíferas e nos fumos insólitos da não-razão.
A certeza da presença invisível absorvida pelas sombras que teimam em pintar o flagelo de uma vida. Nada resta. Só a certeza do fim.
[O homem soçobra de encontro ao desprezo, não de encontro à rocha afiada que se ergue ameaçadoramente no final do abismo]"
"In NINGUEM do Unicus"
16 Comments:
At 1:55 AM, Simbelmune said…
De volta com um "Cântico Negro" bem teu em palavras de outrém. Tive pena que as terras Lusas não nos entregassem um olhar que se promete em tempos velados.
Sinto e comprendo essa melancolia de promessa que se faz "Não"... com ela vem a Musa meu anjo... e a musa é paixão feita palavra e lágrima.
Como o Fado - bem nosso - há tensão entre a dôr do que se perde e aquilo que se encontra na meditação profunda do que ficou... em nós... saudade diria o poeta... saudade
At 9:56 AM, Nilson Barcelli said…
Não sei em que dia passaste à minha porta, mas a minha já é outra.
Nem sei onde estás agora...
Esta semana ainda trabalho até sexta-feira.
Beijinhos.
At 10:11 AM, Crepúsculo Maria da Graça Oliveira Gomes said…
Minha querida a gentil amiga, o teu post está dívino adorei ler-te fiquei maravilhada com a narrativa.ès maravilhosa .Beijinhos amiga
At 10:17 AM, maresia_mar said…
Voltaste linda e pelos vistos cheia de energia e inspiração.. o post está divinal, profundo e cheio de sentimento.
Bjhs com sabor a maresia
At 10:31 AM, zmsantos said…
Micas, benvinda! Ainda não olhei para o post com olhos de ver, vou fazelo mais tarde. Só quero desejar saúde, bom recomeço!
At 11:03 AM, Micas said…
Adryka, apenas a fotografia me pertence, o texto não foi escrito por mim, foi amabilidade do autor que o disponibilizou para aqui ser colocado. É bom saber que gostaste.
Beijinho
At 12:41 PM, LUA DE LOBOS said…
Não sabia que estavas em Gaia... buuuáaáááááá!!!!!!!!!!!!!
que bom que tenhas gostado... é muito importante embora os escritores tenham a mania de que não é importante para eles que o público goste da sua obra...
é a maior treta do mundo... se não lhes interessasse para que haviam de publicar????
é evidente que eu escrevo primeiro para mim e tenho de gostar do que escrevo.
mas a aceitação e o reconhecimento é bom que se farta:::))
obrigada pelo elogio ao meu último livro Gato Pedra
xi
maria
P.S. ainda estás por lá? porque eu vou voltar::)) a Gaia claro!!!
At 4:19 PM, Aragana said…
Já havia saudades!!!
;)
Um beijo e um sorriso!
At 1:15 PM, naturalissima said…
Há muito que não nos viamos!!!
Gostei do teu regresso...
Amiga, fiquei deslumbrada com teu artigo. Gostei muito! E gsotei também da fotografia que o acompanha.
Tens também sensibilidade para esta coisa de imagens...
Um beijinho enorme e até breve
Daniela
At 1:29 PM, Mikas said…
Alô Micas adoro a imagem e o texto também, que tal de férias? Beijinhos
At 4:39 PM, greentea said…
matéria e...antimatéria... Beijos
At 1:01 AM, Madeira Inside said…
OLá querida Micas!
SEmpre bom ter-te por lá no meu cantinho, e sempre bo vir cá lert-te!
Gostei! E photo lindissima!
Beijinhos
:)))))))))
At 9:13 PM, Mar e Serra said…
Espero que tenha corrido bem as férias.Eu fiquei por cä, por motivos de trabalho näo vou de férias.A foto do mar...que saudades.
Um beijinho e bom fim de semana
At 11:56 PM, Nilson Barcelli said…
Até parece que ainda estás de férias... Não escreves mais coisas?
Beijinhos
At 7:20 PM, ÍntimoSedutor said…
Olá Micas....
Querida agradeço tua visita e teu comentário gostoso.....É sempre bom encontrarmos carinhas novas no nosso cantinho, fiquei feliz com sua presença e vim aki conhecer teu espaço, agradou-me muito, voltarei mais vezes.....
Beijos micadinhos.....
At 5:06 PM, Cláudia Félix Rodrigues said…
Etiquetei-te! Passa no meu Mar para veres como te tramei... eh, eh, eh. Beijinho
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