Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em Terras da Germânia

Mittwoch, Oktober 20, 2004

Lendas do Vale do Lima

Lenda de Viana


Há muito, muito tempo existia uma pequena povoação nascida na margem direita do rio Lima, junto à foz, quando as águas doces e vagarosas se misturam com o bravio das ondas salgadas.
Chamava-se Átrio e tinha, sobranceira, uma montanha densa de arvoredo, onde, no alto, existira a fortificação de um castro habitado por povos sem nome e que, a dada altura, desceram ao litoral, buscando, na pesca, melhor alimento e mais comércio.
Era extremamente bela, entre veigas cultivadas, palmos de hortas viçosas, redis, pomares e vinhedos.
Mas a sua principal vocação era, sem dúvida, o mar, a pesca.
E, na extenção fina de praia, várias embarcações esperavam as madrugadas para serem lançadas às vagas, com o afã dos remos, o aceno das velas e o espalhar das redes.
Pelo entardecer, as companhas regressavam ao Átrio, para alegria das mulheres e das crianças, com o fundo da embarcação farto de pescado palpitante: a sardinha, o carapau, a faneca, o congro...
Vinham, rio abaixo, muito habitante de outras povoações, para o abastecimento pródigo das suas mesas.
Ora morava no Átrio, na modéstia de um casebre, uma linda rapariga chamada Ana, filha de pescador e desenvolta na venda de peixe, sempre com uma canção nos lábios, ouvida a algum jogral chegado da vizinha Galiza, onde animava os serões dos paços e os terreiros das romarias.
Escutava-lhe, deliciado, estas cantigas de amor e de amigo, um jovem barqueiro que, empunhando a longa vara com que impulsionava o comprido barco de fundo chato, transportava, na correnteza do rio, até ao Átrio, várias vezes por semana, lavradores e mercadores à compra de peixe fresco e saboroso para dar prazer aos rigorosos jejuns.
De tanto escutar a voz harmoniosa de Ana e de lhe admirar a graça, o rapaz começou a sentir pela rapariga um amor que ia aumentando dia após dia.
Confessara já aos amigos e companheiros de lida o agrado desse amor nascente.
E estes, contentes com o seu contentamento, sorriam quando o moço barqueiro, ao voltar do Átrio, lhes atirava um brado feliz:
- Vi Ana! Vi Ana!
Um dia, porém, não se contentou em vê-la e dirigiu-lhe a palavra, num enleio que lhe corava as faces.
A rapariga percebeu, então, o vivo interesse do rapaz por ela, os olhos dele, brilhantes, sobre o rosto dela, sobre os olhos dela, sobre os cabelos dela...
E o seu coração lisonjeado retribui-lhe esse interesse, retribuiu-lhe esse amor.
Não tardou em realizar-se a boda dos dois enamorados.
Durante os festejos, bebendo vinho acre e refrescante gerado nos parreirais da região, os companheiros e amigos do noivo recordaram-lhe o brado entusiástico:
- Vi Ana! Vi Ana!
O dito foi logo adoptado pelos pescadores do Átrio que passaram a repeti-lo quando, vindos dos trabalhos duros da faina, se lhes deparava o vulto acolhedor da montanha, as praias doiradas, as veigas férteis, as águas lentas do rio e a paz dos seus lares:
- Vi Ana! Vi Ana!
Ao conceder o foral à povoação da foz do Lima, em 1258, o rei D. Afonso III, que a visitara tempos antes, extasiando-se com tanta beleza e prosperidade, substituiu-lhe o nome de Átrio pelo de Viana.
Por certo, alguém lhe revelara aquele brado de amor.
E só amor merece terra tão abençoada!
"In Lendas do Vale do Lima de Manuel Couto Viana"
Comments:

3 Comments:

  • At 11:42 AM, Blogger Artur said…

    Oi amiga...sabe estou sentado junto a minha mulher...e vim abrir o teu blog e vi "LENDAS DO VALE DO LIMA"...
    Adoro, ideia excelente Micas e se puderes continua a publicar essas lendas da tua região (eu não tenho jeito para escrever assim um conto) ... eu agora vou ter tempo para falar e ler com atenção :)... fica bem AMIGA
    BJS
    ARTUR

     
  • At 7:12 PM, Blogger Unknown said…

    Oi Micas, tudo bom?
    Gostei muito da sua història, acho que devias continuar...
    bjs
    LIZ

     
  • At 12:58 PM, Blogger Luís F. Simões said…

    Este é o meu novo endereço "Micas". Aparece. beijo

     

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