Carta portuguesa
Lisboa, Portugal
Querido filho, escrevo-te estas linhas para que saibas que a mãe está viva.
Vou escrever bem devagar, pois sei que não consegues ler depressa.
Caso estejas sem tempo de escrever à mãe, manda uma carta dizendo que quando estiveres mais tranquilo vais mandar notícias.
Tua irmã Maria está grávida. Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não te podemos dizer se vais ser tio ou tia.
Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2.300 homens abaixo dele. É o responsável pelo corte da erva do cemitério.
Quem anda sumido é teu tio Venâncio, que morreu no ano passado. Lembras do teu tio Joaquim? Então, afogou-se no mês passado num depósito de vinho. Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles. O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.
Teu irmão João continua o mesmo de sempre. Na semana passada fechou o carro com as chaves dentro. Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave para nos poder tirar a todos de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.
Esta carta mando-ta através do Gabriel, que vai amanhã para aí. A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?
Tua mãe que te ama, Fátima Manuela da Alcova.
PS.: Ia mandar-te 10€, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.
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