Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em Terras da Germânia

Sonntag, November 28, 2004

Natal???

As cidades vestem-se de cor e luz, votadas à alegria da quadra natalícia.
As ruas enchem-se de corpos sem rostos que correm sem hora marcada para nada.
Os jornais com que o velho tenta enganar o frio da noite, anúnciam uma liquidação qualquer que os peões não querem perder. Há ainda muitos presentes a comprar, e correm, correm mesmo não sabendo o endereço.
No velho, ninguém repara já, é presença habitual nos degraus gastos da velha igreja da praça.

Inventa-se um “Dia sem Compras”, do qual apenas se salva a intenção.
Os corpos sem rosto continuam numa correria desenfreada pelas catedrais do consumismo, onde se gasta o que há e até o que não há.
Há que atender aos pedidos das criancinhas a quem ensinamos a escrever ao Pai Natal.

Nessa noite mágica, que deveria ser de Paz, sentam-se todos à volta de uma mesa farta, com sorrisos rasgados que escondem a solidão que lhes vai na alma.
Os olhos dos nossos filhos brilharão ao encontrarem no pinheirinho, por eles tão bem decorado, a tão desejada consola, as Barbies, o carro telecomandado, e mais um sem fim de coisas plásticas e inúteis.

Ninguém lhes conta que os idosos do seu país são os mais pobres da europa e vivem ainda em habitações sem casas de banho.
Ninguém lhes conta dos meninos que nessa noite não tem um pedaço de pão para enganar o estômago.
Ninguém lhes conta dos meninos que nessa noite em vez das melodias de natal que se ouvem na sala, apenas conhecem o estrondear das bombas e o estampido dos tiros.
Ninguém lhes conta que o Natal ainda não chegou a esses meninos.
O homem é um "bicho" mentiroso que se torna ainda mais falso nesta época do ano.
Até quando???
Afinal o que é o Natal?? Será que algum de nós sabe??
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Freitag, November 26, 2004

Poeta

É arte de poeta
Caneta e papel
Qualquer astro no céu
Amor sem toque de mel
Abandono ao léu

É coisa de poeta
Metáfora escancarada
Rima massacrada
Vírgula abandonada
Assim do nada


É solidão de poeta
Não ter sua musa
Andar só pela rua
Fingir ser amante da lua
Ter a alma nua

É companhia de poeta
Mesa de bar
Um cigarro pra fumar
A musica que faz chorar
Saudade que quer matar

É casa de poeta
Experiência humana
Aventura insana
Palavra profana
A paz que irmana

É sonho de poeta
Seu poema terminado
Sentimento despojado
Um livro publicado
Por você ser respeitado.

M. Farias


Poema da autoria de Monica Farias. Mulher, mãe, lutadora, amiga, sonhadora. Entre outros sonhos, o de ver publicado os seus poemas, que faço votos se concretize muito em breve.
http://www.akiaka.blogger.com.br/

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Mittwoch, November 24, 2004

E esta hein...

É impressionante o grau de cultura que alguns Portugueses tem, e principalmente quando os mesmos são funcionários de uma faculdade.
O facto que passo a relatar mais parece uma anedota, que não o sendo, em vez de rir, dá é vontade de chorar...
Na passada semana uma amiga minha, proprietária de uma empresa de arte e design (http://www.xptodesign.pt/), teve necessidade de falar com alguém que trabalha na administração da WWW. de uma Universidade (nomes omitidos), detentora do alojamento do site de uma Associação de Ópera, para o qual a empresa da minha amiga refez o design.
Ligou para que lhe fosse fornecida a password e assim proceder com o upload e respectiva actualização.

Resposta do senhor: - A password é Richard Wagner
A amiga pergunta: - Escrevo tudo junto?
Ao que ele responde: Sim, tudo junto e olhe que Wagner é com W [...] Deve ser algum Brasileiro!!!!

Depois desta resposta...é de se ficar simplesmente sem fala.
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Samstag, November 20, 2004

Endlich Schnee!


A manhã nasceu alva e bela.

A neve, que cai intensamente lá fora, provoca arrepios na pele, que contrastam com o aconchego do lar.

A primeira de muitas neves chegou, e com ela diviso já, os longos passeios pela floresta onde tudo adquire uma beleza impar, ouvindo o silêncio, sim ouvindo o silêncio...
Desfrutando a luz que é única, no fim de cada nevão.
Sorrindo com a alegria dos pequenos que brincam em trenós, e que nos fazem soltar a criança que trazemos dentro do peito.
Sentir o frio seco, penetrante, para depois dar valor ao prazer de uma chávena de café fumegante e aromático.

Coisas simples, pequenos prazeres de inverno, mas que tanto me aquecem a alma.
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Mittwoch, November 17, 2004

A qualquer preço

Imagens projectam-se, saem do abstracto
São parte de um todo inanimado
No colectivo inconsciente de o ser

Na pluralidade singular
Na objectividade subjectiva
Aportam embarcações na perspectiva marítima
Proliferam da abundância veículos anónimos

Os vidros do amontoado de garrafas irrompem
Nos estilhaços, vísceras humanas abundam
Misturaram o progresso e a modernidade,
A fome e a guerra
Existe Fome e Dor e Morte – Haja Estilo
Tudo tem uma explicação elitizada,
Tudo se compreende
Sim!, tudo é fino e se compreende
São assim os tempos da catástrofe audiovisual
São assim os momentos da corrupção progressista
Nas palavras repulsivas e nauseabundas,
Nas palavras Lucro e Poder,
a qualquer preço – a Mordomia

"Luis F. Simões In Pode ser que vos caia uma chupeta do céu"

Tenho a honra de aqui colocar um poema de Luis F. Simões, amávelmente cedido e autorizado pelo próprio. Um escritor que admiro particularmente pelo seu estilo de escrita e pela sua lúcidez. Obrigada Luis.
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Freitag, November 12, 2004

Um olhar...


Hoje quis apenas viver as cores que me rodeiam...
Sentir o ar frio no rosto.

Ignorar o mundo de homens feios em que vivo
Esquecer a mentira, a falsidade, a hipocrisia
Que encontro ao virar de cada esquina.
Esquecer as guerras, a fome e a miséria
Abstrair-me da sociedade artificial, egoísta e consumista que somos
Hoje, hoje fechei tudo isso dentro de uma caixa que guardei no bolso.



Hoje deixei que o meu olhar captasse apenas o que há de belo na vida.
O riso inocente das crianças numa brincadeira qualquer
Os beijos dos namorados num banco de jardim
Os rostos enrugados com olhos rasos de memórias de muitas Primaveras e outros Outonos
Os ocres outonais que me fascinam

Hoje, hoje vesti-me apenas com as cores do meu olhar...

(2004-11-08)
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Mittwoch, November 10, 2004

Berlim 15 anos - Um novo tempo??


(foto de Jorge Preto)

15 anos passaram desde a queda do "famoso" Muro da Vergonha, sob promessas de Esperança e Igualdade.
O Muro caiu, mas um fosso ficou. O mesmo que aumenta de dia para dia.
Um outro muro invisível nasceu, dividindo cada vez mais o povo alemão.
O muro caiu mas a barreira ficou. Até quando???



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Montag, November 08, 2004

Palácio de Nordkirchen (parte II )

A construção do palácio, de influência francesa e italiana teve início em Junho de 1703.
Os interiores foram concebidos de maneira relativamente simples e sem grandes luxos, como era tradição na zona de Münster no início do sec.XVII.

Apenas a capela e os salões da êxedra denotam luxo de estilo Louis XIV, com especial relevo para os tectos.
Para esses trabalhos vieram artistas italianos tal como Stephano Melchion e António Rizzo.












A partir de 1714 o pintor Johann Martin Pictorius começou o trabalho de pintura dos tectos da capela, que são realmente sublimes.









Em 1723 foram criados novos jardins, da responsabilidade do engenheiro Johann Conrad, os quais voltaram a sofrer alterações em 1834.














(Documento do Museu de Arte e Cultura Westfálica - Münster)


Em 1897 morre o filho de Maria von Plettenberg e Graf Nikolaus Franz, o último dos Plettenberg, tendo o palácio ficado aos seus parentes húngaros.








No ano de 1903 foi comprado por Herzog Engelbert von Arenberg.
No início da 1ª Grande Guerra foram terminados todos os trabalhos de construção, e ainda durante a guerra a familia Arenberg exilou-se na Bélgica.




Desde então o palácio teve já várias utilizações, chegou a ser usado como retiro de férias para os funcionários dos correios por volta de 1922.
Em 1937 foi usado como colégio de estratégia política do NSDAP (National Sozialistisch Deutsch Arbeit Partei) vulgo Partido Nazi de Hitler.
Tendo sido milagrosamente poupado aos bombardeamentos da 2ª Grande Guerra, apenas o tecto de um dos pavilhões seria danificado por uma bomba incendiária.

Em 1949 foi alugado pelo Governo Civil do Nordhein Westfalen para aí instalar a Escola Superior de Finanças. Em 1958 acabou por ser comprado pelo Estado da Westfália, dando-se início aos diversos trabalhos de restauro.
Já em 1970 e devido ao grande aumento de alunos, foram construidos pavilhões para acomodação de docentes e alunos.




Actualmente parte do palácio está reservada a museu, onde ainda nos podemos deleitar com as fantásticas obras de arte, desde exposição de pintura, escultura, passando pelos famosos tectos da capela de estilo barroco digna de ser vista.





Os jardins são geralmente palco de concertos de música classica, ópera e bailado durante as noites amenas de verão.







Todo o resto faz parte da Universidade de Münster, que transferiu para aí todas as especializações em Finanças da área de Economia com um total de 1000 alunos.
Um local que merece ser visitado, por toda a sua história, pela beleza e toda a arte que aí se encontra.


(DKV-Kunstführer nr.597/3 - Todas as fotografias desta II parte
pertencem ao palácio, já que não é permitido fotografar ou filmar
os interiores)
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Donnerstag, November 04, 2004

Palácio de Nordkirchen (parte I)

Para quem gosta de arte e arquitectura, a Westfália é sem dúvida uma zona apetecível. Desde as aldeias tipicamente alemãs, onde a traça arquitectónica de tempos ídos é conservada ao ínfimo pormenor, às grandes catedrais, castelos e palácios que pululam por aqui.


Trago hoje Nordkirchen. Uma aldeia que nasceu a partir de uma herdade oferecida pelo Kaiser Carlos o Grande, no sec. IX, ao primeiro Bispo de Münster, Liudger.
A aldeia deu lugar ao Palácio de Nordkirchen, do qual falarei mais à frente.

Este pequeno povoado estava no domínio da familia Morrien desde 1275.
Sofreu várias transformações ao longo de gerações. Em 1398 desmantelaram a velha igreja da aldeia, devido à grande extensão do muro de defesa existente. Uma nova igreja foi então construida em 1536, a qual permanece até aos dias de hoje. (foto www.eregio.gymnasium.de)
Em 1528 começaram com o planeamento para a construção de um novo palácio. Seria um palácio seguro e protegido, devido aos muros e canais de água existentes a toda à volta do mesmo.
Em 1691 morre o último dos Morrien. Várias estátuas e bustos da familia podem ainda ser vistos no andar superior do palácio, hoje reservado a museu.

Os primeiros esquissos conhecidos do palácio datam de 1697, e pertenciam a um famoso arquitecto da época, Gottfried Laurenz Pictorius. Em 1702 foi então apresentado um plano geral pelos arquitectos Laurenz Pictorius e Jacob Roman aus s´Gravenhage. A sua construção teve início em Junho de 1703 sendo conduzida durante várias gerações da familia Plettenberg-Lenhausen.



Para quem conhece o Palácio de Versailles, essa poderá ser a primeira impressão que se tem ao deparar com a entrada do Schloss Nordkirchen. É mesmo conhecido na Alemanha como
– Versailles Westfálica –


Passear pelos seus belíssimos jardins, que mais parecem traçados a régua e esquadro tal é a perfeição, pejados de estátuas que invocam a mitologia grega.



Percorrer as extensas alamedas ladeadas de árvores centenárias de porte altivo e que nesta altura do ano mais parece uma explosão de cores como eu nunca antes vi. Vermelhos, laranjas, amarelos, roxos, estão aqui todas as tonalidades possiveis e imaginárias. Árvores e arbustos cheios de bagas nos mesmos tons de ocre. Qual paleta de pintor, numa autêntica sinfonia de beleza e cor. Ou então apenas olhar os patos nos extensos lagos que envolvem o palácio, remetem-nos para um ambiente de fantasia e romantismo impar, onde a beleza natural aliada à arte se respira em todos os recantos.


(foto www.euregio-gymnasium.de)
(continua)


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Dienstag, November 02, 2004

Nesta Hora

Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca
[o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar

Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão

Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar siline de atenção -

Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste


"Sophia de Mello Breyner Andresen in O Nome das Coisas"



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